Depois de 92 anos, a academia de cinema dos EUA concedeu o Oscar de Melhor Filme à um filme estrangeiro, vencendo uma barreira linguística, já que Parasita é um filme sul-coreano e está sendo exibido nos EUA e em vários lugares do mundo, de maneira legendada. Nós do Brasil estamos muito acostumados a assistir filmes estrangeiros com áudio original e legendas, porém, nos EUA e em vários países da Europa, isso não ocorria até bem pouco tempo. Indo profundamente:
Parasita: uma vitória histórica
No entanto, Parasita ganhou não só Oscar de Melhor Filme, mas também melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro, além do diretor Bong Joon-ho levar a estatueta de melhor diretor. Desde os anos 1950 a mesma obra não ganhava o Oscar e a Palma de Ouro de Cannes, outro prêmio conquistado pelo filme. O longa já foi também o primeiro filme de língua estrangeira a vencer a principal categoria da premiação do SAG Awards, entregue pelo Sindicato dos Atores dos EUA — Melhor Elenco de Filme. Levou também, no mesmo mês, o prêmio de melhor filme estrangeiro do Globo de Ouro.
O que isso tem a ver com o streaming?
Este movimento demonstra que a resistência dos americanos em ver filmes em outro idioma está sendo quebrada. E isso vem acontecendo por conta da explosão do streaming. Hoje, filmes de excelente qualidade são vistos por milhões de pessoas em várias plataformas de vídeo sob demanda, sendo os mesmos de diferentes países e línguas.
Antes da explosão do consumo de vídeos em plataformas de streaming, o acesso aos conteúdos ocorria por meio de salas de cinemas e canais lineares, que mantinham o grande circuito dos cinemas e escolhiam muito bem o que exibir no primeiro caso. Os canais lineares, com seu tempo restrito às 24 horas por dia, não davam espaço para conteúdos alternativos, sendo assim, a chance de vermos algo falado em coreano tanto nos cinemas quanto nas TVs era praticamente nula.
O streaming veio para quebrar a barreira de tempo e espaço, permitindo que tenhamos acesso a uma quantidade descomunal de conteúdo inclusive em coreano. Numa mesma plataforma de vídeo podemos encontrar mais de dez bons filmes neste idioma, algo impossível antes da popularização do streaming.
A explosão do streaming pode ser confirmada por alguns institutos de pesquisa. Segundo o eMarketer, para 2022, o número de assinaturas OTT (Over-The-Top) e do serviço de streaming nos EUA chegará a 197,7 milhões. O mercado global de OTT deve alcançar a marca de US$ 332,52 bilhões até 2025 (estudo da Allied Market Research).
Outro indicador do sucesso do streaming e de seu impacto foi a entrada da Disney+ neste mercado nos EUA, com 10 milhões de assinantes já no primeiro dia e uma meta de 60 a 90 milhões de assinantes em todo mundo até 2024. A Disney tem nada menos que Marvel e Pixel em seu portfólio, é dona da Fox e da ESPN, investiu US$ 100 milhões para o lançamento com a série The Mandalorian, do núcleo Star Wars e embora a Disney+ só pretenda chegar à América Latina em 2021, é fato que a empresa marca uma explosão de conteúdo desse tipo para o mundo.
Outro dado interessante é que, somando a produção de conteúdo da Disney+, Apple TV+, Amazon Prime Video e Netflix, estima-se que 800 novas séries de streaming vem sendo produzidas para 2020. Basicamente, estamos falando de uma quantidade de conteúdo que para um consumidor médio assistir levaria cerca de cinco anos. E, nessa conta, nem estamos falando de HBO Max, Peacock da NBCU, Warner, Universal, BBC, Sony, Paramount+ e muitos outros.
O streaming está mudando a forma como o mundo assiste conteúdo audiovisual
Assim, como está mudando a forma de consumir cinema e as premiações de Parasita retoma discussões como as que foram levantadas em 2017, quando Okja, durante o Festival de Cannes de 2017, concorreu à Palma de Ouro. O filme em si era o resultado de uma parceria entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos e foi bastante elogiado, mas a indicação recebeu vaias direcionadas à Netflix que não queria esperar os tradicionais 90 dias para lançar um filme no streaming.
Para alguns cineastas, o streaming ameaça o papel do cinema como diversão coletiva, porém, é inegável o poder de alcance do novo formato. E assim como os aplicativos de transporte, o streaming veio para ficar. Naquele ano, grandes players da academia sugeriam que esses filmes feitos para streaming fossem contemplados com Emmy e não com as premiações do Cinema. Parece que a Academia já está incorporando impactos do streaming.
Parasita é mais uma prova que essa nova forma de assistir conteúdo, o streaming – VoD, não é mais uma tendência, mas a nova realidade de como consumimos entretenimento. Parasita vem para quebrar barreiras de língua e, também, as de conceitos.
E você, o que pensa a respeito do streaming na indústria do audiovisual? Deixe seu comentário abaixo!
Autor: Maurício Almeida, sócio fundador da Watch Brasil